quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

O Intruso do Sótão (cap.3, parte 3)

Helena continuava sentada no sofá, pensativa. Já estava com o uniforme da escola e a mochila nas costas, tentando decidir se iria ou não.

— Acho que não deveríamos ir — Disse Max, sentado em uma das cadeiras. — Seu pai vai nos pegar se formos.

Ela não disse nada, apenas o olhou tristemente, imaginando até onde a sua rebeldia misturada ao medo poderia levar. Não queria ter de viver como Max, confinada á uma vida ignorante e solitária. Mas talvez ela pudesse viver com Max...

— Vá por seu uniforme. — disse ela, decidida — Nós vamos.

Ele tentou protestar, mas ela o convenceu. Prometeu continuar ali com ele até que os aceitassem de volta, e que reverteriam a situação. Ela só não sabia como.

Eles caminharam em silencio até a grande escola. Parecia muito diferente do que ele se lembrava. Era um edifício cinza e azul de dois andares e várias divisões, que ocupava o quarteirão inteiro. Na frente do portão encontravam-se vários alunos de todos os tamanhos, com o uniforme azul-marinho da escola, olhando para Max enquanto ele passava. Algumas meninas menores riram feito bobas e saíram correndo, outras olharam duas vezes e começaram a cochichar entre si, causando extremo desconforto para ele. Ela mandou as ignorar, eram só pessoas maldosas do colegial. Helena conversou com a diretora, que aceitou a volta de Max e parabenizou ela pela ação. Eles ficaram em turmas separadas, mas ele não teve dificuldade. As amigas esperaram ansiosamente até a educação física, quando tiveram um intervalo, para enche-la de perguntas.

— Como foi a noite? — perguntou Isabele — Você ficou com medo?

— Vocês ficaram sozinhos? — cortou Lidie, afobada — Rolou alguma coisa? Ele te beijou?

— O que?! Não! — disse Helena, corando — Olha, faz pouco tempo que o conheço, pelo amor de Deus!

As perguntas curiosas choveram aos montes para ela. As indiscretas de Lidie, e as acusadoras de Isabele. No entanto, ela se sentia estranhamente feliz, como quando encontrara Thiago pela primeira vez.

— Helena — disse Isabele baixinho, quando elas estavam indo embora — Não quero te repreender nem nada, mas é que... Sei lá! Vocês dois, sozinhos em uma casa... Você não acha que está além dos limites? Seu pai não é um homem burro, você sabe.

— Tudo bem, Isa. Agradeço que esteja preocupada, mas sou mais esperta do que meu pai e Max. Não vou deixar que nenhum deles me pegue.

E, com essa última declaração, a menina deixou a amiga para trás, juntando-se a Max para ir embora. Mais uma vez, ela tivera um erro em seus cálculos, e sabia disso. A amiga tinha razão, ela estava sendo imprudente e óbvia. Não deveria ter ignorado o conselho que talvez fosse sua última chance de escapar. Agora, faltava pouco para que ela sentisse o amargo da própria rebeldia.




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