sexta-feira, 27 de maio de 2011

O intruso do sótão (cap. 5)

O dia seguinte veio e passou, e Helena sentiu um aperto no peito. Não viu Max em lugar algum da escola, estava começando a se preocupar, mesmo que não quisesse. Talvez ele tivesse desistido dos estudos novamente, uma vez que ela não estava lá para incentivá-lo (ou obrigá-lo, se fosse o caso). Talvez estivesse apenas com preguiça de ir à aula naquele dia. De qualquer forma, não era motivo para um alarde.
Na tarde seguinte Helena entrou na escola devagar, olhando todos os cantos. Atravessou os gélidos corredores azuis da escola de Porto Príncipe, vasculhando meticulosamente com o olhar cada um deles, à procura de Max. Em seu desespero, abordou um aluno do sexto ano no corredor, e mandou-o procurar Max. Sem saber mais o que fazer, ela entrou em sua sala de aula.
— ... e foi esse um dos motivos pelos quais a Rússia deixasse a tríplice aliança, proporcionando...
Helena não estava escutando uma palavra do que dizia a professora de história, uma mulher alta, robusta e de óculos quadrados, com um rosto aquilino e cabelos mal-pintados. Sua professora andava de um lado para o outro, com os dedos entrelaçados, explicando a matéria. Mas Helena não se importava nem um pouco, e estava conversando com Lidie através de bilhetes.
Não o vi o dia inteiro, Escreveu Helena.
Estou preocupada. Só Deus sabe o que aconteceu com aquele garoto. Vou matá-lo quando o encontrar.
Calma, Lena
, respondeu Lidie. Talvez ele não tenha vindo simplesmente porque não quis. E também...
A leitura foi interrompida quando a professora arrancou o papel das mãos de Helena. Toda a classe tinha os olhos fixos na cena, e alguns risinhos saíram abafados quando a professora disse que ia começar a lê-lo em voz alta.
— Se ferrou. — disse uma voz masculina do fundo da sala.
— Eu não acredito que tenha feito isto, Helena. Você anda muito desinteressada, como é que você pode...
— Ah, professora, por favor — disse Helena, fechando os olhos e gesticulando uma boca com a mão, como em um teatro de bonecos — Olha aqui, fale com a minha mão. Ela é toda ouvidos.
Metade da sala explodiu em risos ao ver a cena. A professora ficou vermelha de raiva mandou Helena sair e a acompanhou até a porta da diretoria.
É, agora eu me ferrei, pensou ela, antes de entrar no cômodo bege, abarrotado de arquivos e que cheirava á lustra-móveis.





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O intruso do sótão(Cap. 4, parte 4)

Atrevida como era, Helena já tinha pensado em um novo plano para rever Max. Ela pensara nele o tempo todo, tentando deixar as amigas de fora, mas simplesmente não podia. Precisava da ajuda delas.
Ela chamou Lidie, que era a mais animada e menos ajuizada. A menina pediu que ela fosse á sua casa assim que pudesse. Era só ela chegar que Helena colocaria o plano em prática imediatamente. Ou nem tanto.
— Helena! — gritou tia marta, ao pé da escada.
— O que é? — gritou a menina, com uma nota de irritação na voz.
— A Lidie está aqui.
— Manda subir. — gritou ela através da porta entreaberta.
— Peça! — corrigiu Marta irritada. Ela já ia subir para dar um sermão gritado á menina, mas achou melhor esperar que a amiga se retirasse.
— E então? — disse Lidie, mexendo nervosamente os cabelos louros escuros e cacheados.
Helena reavaliou as possibilidades de uma possível rejeição, mas não havia duvidas de que ela aceitaria. Lidie era, antes de tudo, a mais fiel amiga de Helena, e é claro que ela não iria desistir tão fácil.
Helena contou-lhe seu plano, os olhos verdes brilhando de ansiedade. Ela havia pensado em cada detalhe com muito cuidado, como sempre fazia. Não podia se dar ao luxo de ser pega novamente.
Estou perto, Max. Espere apenas mais um pouco.




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segunda-feira, 11 de abril de 2011

O intruso do sótão (cap. 4 parte 3)

Sozinha em seu quarto, Helena não parava de pensar em Max. Como ele estará? Bem, espero. Pensava a menina, com o coração palpitando. Droga, Max. Não devia estar preocupada com você.

Ela não tinha certeza de seus sentimentos. Ás vezes pensava amar Max, outra achava que amava a imagem de Thiago refletida sobre ele. Ela estava confusa; queria uma chance com Max, mas no fundo desejava que ele fosse com Thiago. Pelo menos um pouco.

Na casa, distante de Helena, a mente do garoto girava com mil ideias. Medo, desespero, ódio, paixão. Todas essas coisas entrelaçadas tinham como foco o último acontecimento. Nenhum dos dois queria se separar, no entanto Max era o que mais sofria com isso. A um longo tempo que não tivera uma companhia, ainda mais uma companhia como a dela. È claro, ele a achava muito bonita, mas sabia que não passava de mera atração física. Dizia isso á si mesmo, garantindo que não seria capaz de amá-la, apenas se apaixonar por ela. Uma paixão passageira, como muitas outras que tivera que poderia cessar rapidamente em um beijo.

È, um beijo. Na verdade o beijo.

Max queria isso, Helena também. Max por que acreditava que quando a beijasse veria que seu sentimento não era nada além de uma atração física. Já Helena pensava diferente. Pensou tanto no assunto, que escreveu em seu diário:

Não sei o que penso da vida, estou confusa. A verdade é que as vezes acho que Max poderia ser para mim uma réplica de Thiago, perfeito e único novamente. Outras vezes desejo apenas ele, o meu Max, do jeito único que é. Não sei bem como funciona. Em um momento choro ao lembrar-me de Thiago, em outro sorrio por ter Max para substituí-lo. Um dia vou descobrir o que realmente quero.

Mas para esse ia chegar, tenho que fazer uma coisa primeiro:

Tenho que beijá-lo.

Não sei se por simples curiosidade, ou por ardente paixão. Só quero fazer isso. Queria saber o sabor que seus lábios têm. O quanto de amor ele pode me dar, e o quanto mereço.

Nesse dia, quero que ele retribua esse sentimento também.

Ela deixou escapar um suspiro, e a visão de si mesma nos braços de um Max Thiago vagou por sua mente.

Quero beijá-lo, saber o sabor que seus lábios tem.

Ela fechou o diário e abraçou-o contra o peito, suspirando.




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sábado, 9 de abril de 2011

O Intruso do sótão (cap.4 parte 2)

Helena ficou quieta enquanto percorria todo o caminho até sua casa. Tia Marta reclamava aos gritos, os cabelos louros e curtos esvoaçando devido ao vento da janela aberta do quarto. Ele queria a mandarela calar a boca, mas concluiu que já tinha problemas demais.

Quando ela chegou o pai esperava junto a porta, de braços cruzados. A grande casa de campo amarela se erguia atrás do pai, parecendo calma e convidativa. As janelas abertas, as flores emoldurando-a. Helena não se importava se iria apanhar ou ficar de castigo pelo resto da vida. Por algum motivo, seu pensamento estava muito distante.

— Helena — disse o pai, já sentado na mesa da cozinha, esperando uma conversa madura e civilizada —, por que fez isso? Sabe que fiquei preocupado?

Não parece, pensou ela.

— Sabe que não gosto que me prendam, nem que me ignorem. Não posso ser contida pai, desculpe.

Ela não fazia ideia de como parecia muito mais adulta ao dizer essa frase. Mesmo assim, sua mente estava distante, nem mesmo ela fazia ideia de onde. É claro, o homem ficou atônito, vendo a filha deixar a mesa sem mais uma palavra. A expressão de Helena, seu olhar, estavam distantes.

— Helena, eu não terminei — disse a voz dura do pai, obrigando-a parar.

Ela sabia que se não virasse naquele momento, o pai perderia o autocontrole que estava conseguindo á duras penas. Ela fitou o rosto nervoso do pai, com uma expressão distante demais até para ela mesma. Ele, por sua vez, começou a enumerar as regras:

— Vai ficar três meses se poder sair com suas amigas, ouviu? Vou tirar seu notebook, e você só vai usá-lo sob minha vigilância quando tiver trabalhos escolares. Não quero visitas de domingos nem à noite, e você só pode sair desta casa comigo. Entendeu?

No primeiro momento, ela nada respondeu. Não vou poder ver Max, pensou aflita. O pai ficou nervoso e repetiu, com a voz elevada:

Entendeu?

— Sim, pai. A verdade era que ela não estava nem pouco preocupada. Não deu a mínima atenção ao discurso do pai que se seguiu, pedindo silenciosamente que tudo aquilo terminasse rápido e da forma mais amigável possível. Ela queria subir e ficar sozinha no quarto, pensando em uma outra forma de ver Max.

Era impossível deixar de pensar nele por um só segundo, mesmo que ela quisesse.



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sexta-feira, 11 de março de 2011

O Intruso do Sótão (Cap. 4)

— Vai agora Max! — disse Helena á ele, por cima do barulho das batidas violentas na porta.
— Não, Helena. Eu vou ficar. — disse ele, decidido. Não ia fugir enquanto ela... Não queria pensar nisso.
— Max, você não pode! — repetiu ela, desesperada — Eu não... Eu não quero você envolvido nisso também. Você não tem culpa! — disse ela, depois de respirar fundo.
Max a segurou pelos braços, fitando seu olhar suplicante. Não pode lutar sozinha nessa guerra, pensou ele. Podia sentir o hálito quente e ofegante de Helena em sua bochecha, as mãos se fechando com força em sua camisa. Se ele se aproximasse apenas mais um pouco...
Um estrondo agudo retiniu nos ouvidos de Helena. As velhas dobradiças começavam á ce4der sob o peso dos pés da visita indesejada. Ela tinha um palpite certeiro de que era a tia Marta que batia á porta.
— Vai Max! Só se você se esconder é que... — ela hesitou, reunindo coragem — è que poderemos nos ver de novo.
Max entendeu; ele também queria voltar á vê-la. Relutante, ele permaneceu mais um pouco ao lado dela, pensando se deveria... Não, ele não iria fazer isso. Subiu as escadas correndo e se escondeu no sótão.
Naquele momento, tia Marta colocou a porta abaixo e encontrou Helena esperando por ela, com a mochila nas costas. Ela sacudiu a menina violentamente, xingou-a e disse que estava de castigo para o resto de sua vida. Helena não se importou. Nem com as marcas roxas, nem com os castigos, nem os sermões. Ela chorou, mas não de arrependimento, nem de dor. De outra coisa, que ela nem sabia o que era. Ou pelo menos fingia não saber.



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quarta-feira, 9 de março de 2011

O intruso do Sótão (Cap.3 parte 4)

Helena estava aflita; o conselho de Isabele começava a pesar em sua mente. Ela sabia, mesmo não admitindo, que Isabele tinha razão. Ela seria pega, não importava quando, como ou onde. Ah, que droga, pensou Helena, aflita. Se meu pai souber que estive com o Max, ele me mata. Na verdade, ele iria me matar de qualquer jeito mesmo.

Os dois tentavam se manter calmos, fingindo indiferença á situação. Helena andava de um lado para o outro, evitando olhar para Max. Já ele a encarava sem vergonha alguma, pressentindo o mesmo que ela: o que eles temiam estava próximo. Mais do que podiam imaginar.

— Max, escuta — disse Helena, por fim. Se ela tinha que avisá-lo, seria agora. — Se alguém vier me buscar, eu quero que você se esconda. Não vai poder ficar aqui.

Ele não disse nada, apenas assentiu. Mas também o que eu poderia fazer? Pensou ele. Os dois sabiam da possibilidade de ele ser mandado de volta para o tio, e ninguém queria isso. E ela também não queria que ele estivesse assistindo á sua humilhação.

Sentada ali, sem mais nada a dizer, ela escutou o que esperara. Ela chamara por aquilo, focara nele, e agora estava ali. Um pesadelo real.

Tudo o que ela pode fazer foi lançar um olhara triste á Max antes de atender á visita, que batia furiosamente em sua porta. Copyright 2011. Autoria de Bianca L. Spinola - Todos os direitos reservados. Proibida cópia parcial ou total deste conteúdo sem autorização expressa do autor.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

O Intruso do Sótão (cap.3, parte 3)

Helena continuava sentada no sofá, pensativa. Já estava com o uniforme da escola e a mochila nas costas, tentando decidir se iria ou não.

— Acho que não deveríamos ir — Disse Max, sentado em uma das cadeiras. — Seu pai vai nos pegar se formos.

Ela não disse nada, apenas o olhou tristemente, imaginando até onde a sua rebeldia misturada ao medo poderia levar. Não queria ter de viver como Max, confinada á uma vida ignorante e solitária. Mas talvez ela pudesse viver com Max...

— Vá por seu uniforme. — disse ela, decidida — Nós vamos.

Ele tentou protestar, mas ela o convenceu. Prometeu continuar ali com ele até que os aceitassem de volta, e que reverteriam a situação. Ela só não sabia como.

Eles caminharam em silencio até a grande escola. Parecia muito diferente do que ele se lembrava. Era um edifício cinza e azul de dois andares e várias divisões, que ocupava o quarteirão inteiro. Na frente do portão encontravam-se vários alunos de todos os tamanhos, com o uniforme azul-marinho da escola, olhando para Max enquanto ele passava. Algumas meninas menores riram feito bobas e saíram correndo, outras olharam duas vezes e começaram a cochichar entre si, causando extremo desconforto para ele. Ela mandou as ignorar, eram só pessoas maldosas do colegial. Helena conversou com a diretora, que aceitou a volta de Max e parabenizou ela pela ação. Eles ficaram em turmas separadas, mas ele não teve dificuldade. As amigas esperaram ansiosamente até a educação física, quando tiveram um intervalo, para enche-la de perguntas.

— Como foi a noite? — perguntou Isabele — Você ficou com medo?

— Vocês ficaram sozinhos? — cortou Lidie, afobada — Rolou alguma coisa? Ele te beijou?

— O que?! Não! — disse Helena, corando — Olha, faz pouco tempo que o conheço, pelo amor de Deus!

As perguntas curiosas choveram aos montes para ela. As indiscretas de Lidie, e as acusadoras de Isabele. No entanto, ela se sentia estranhamente feliz, como quando encontrara Thiago pela primeira vez.

— Helena — disse Isabele baixinho, quando elas estavam indo embora — Não quero te repreender nem nada, mas é que... Sei lá! Vocês dois, sozinhos em uma casa... Você não acha que está além dos limites? Seu pai não é um homem burro, você sabe.

— Tudo bem, Isa. Agradeço que esteja preocupada, mas sou mais esperta do que meu pai e Max. Não vou deixar que nenhum deles me pegue.

E, com essa última declaração, a menina deixou a amiga para trás, juntando-se a Max para ir embora. Mais uma vez, ela tivera um erro em seus cálculos, e sabia disso. A amiga tinha razão, ela estava sendo imprudente e óbvia. Não deveria ter ignorado o conselho que talvez fosse sua última chance de escapar. Agora, faltava pouco para que ela sentisse o amargo da própria rebeldia.




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