quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

O intruso do sótão (cap. 1 parte 2)

— Mas Helena querida! Ah, vá, por favor, não faça isso com o seu pai.
O pai estava indignado. O motivo era que a filha tinha sido convidada para estudar na Europa por alguns tios maternos, mas recusara veemente o convite. O pai, Senhor Antero de Valdéz (como gostava de ser chamado), não gostava da recusa da filha. Mas a menina estava inflexível. Não iria para um país desconhecido cheio de coisas estranhas. Como ela iria sobreviver, sabendo o mínimo de algumas línguas européias?
— Já disse, papai. Eu não vou. — repetiu Helena mais uma vez, com a voz cansativa — Não sei falar nem espanhol! O que dirá de inglês e aquelas outras línguas com sotaque carregado!
— Mas filha... — insistiu Sr. Valdéz — è um intercâmbio! Ninguém lá sabe falar uma palavra! Vocês vão para isso!
— Pai, eu não...
O grito ficou entalado na garganta da menina. Tia Marta teve sua entrada barulhenta e triunfal na sala de jantar, carregando um enorme prato carregado de macarrão. E pronta para colocar o nariz absurdamente grande na conversa.
— Você deveria ir sim, mocinha — disse Marta, olhando duro para ela e para o pai — Pouquíssimas pessoas têm uma chance dessas, sua ingrata. — Ela interrompeu o discurso um instante: Vovó Lucia! Venha almoçar! — e continuou — Você devia obrigá-la, Valdéz. Ela não tem o direito de escolher o que quer e o que não quer. Ela não sabe o que é bom para o futuro.
Helena tentava protestar. Ela sabia sim o que era bom para o seu futuro. E tinha muito direito de escolher não ir para um intercambio caro e idiota. Era uma ótima oportunidade, sem dúvida. Mas não era a hora oportuna. Ela não estava preparada.
Depois de ouvir, durante quase todo o jantar, os resmungos repetitivos de Marta, o sangue de Helena lhe subiu á cabeça. Quem era ela para falar assim? Ela não tem, nem de longe, tanto conhecimento como eu. Pensou Helena. Não tem nada que me ensinar. Não pode me acusar de recusar coisas que ela nem sonha em ter. Se ela valoriza tanto essa droga de intercambio, ela que vá.
Mas este último pensamento ela disse em voz alta. Isso resultou em um chute da tia na canela, por baixo da mesa. A garota garantiu que seu "ai" saísse bem alto e esganiçado, para que ela se arrependesse. Mas isto nem de longe iria acontecer. Irritada, Helena subiu para o quarto e trancou a porta, ficando lá pelo resto da tarde.


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Um comentário:

  1. Essa Helena é um pouco rebelde, mas agora estou curiosa para saber o que acontecerá com a pobre menina....Cara autora por favor continue a história..

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