Helena estava sozinha no quarto quando o telefone tocou. Isabele, sua amiga, a estava convidando para sair. Helena pediu permissão ao pai, que influenciado pela tia, negou.
— Não, você não vai! Só vai sair daqui para ir até o aeroporto, amanhã cedo.
Helena enlouqueceu. Era incrível o poder de persuasão da tia. Mas ela não iria, nem por um milhão de dólares.
— Eu não vou! Vocês não podem me obrigar! — gritou a garota, diante de tal declaração.
— Você vai sim! — disse o pai, com firmeza — Foi você mesma que queria estudar na Harvard!
— Pelo amor de Deus! E mais fácil elefantes voarem! — disse Helena, achando aquilo ridículo — Fique sabendo que o Brasil tem ótimas faculdades, e eu pretendo ir para a federal!
— Mas você vai para a Europa, e ponto final!
— Não vou! Por que vocês não pegam esse maldito intercambio na Europa e…
A fala de Helena foi interrompida pelo tapa do pai. Ela aceitava qualquer coisa, mas não a atitude arrogante. Não disse uma palavra, e segurou o bolo na garganta até chegar ao quarto.
— Eles acham que mandam em mim? Eles podem até mandar, mas não podem me arrastar para dentro do avião. — disse Helena para si mesma, enquanto arrumava uma mochila no quarto — Não tem esse direito! Eu tenho que ter escolhas próprias.
Helena estava decidida: iria fugir. Arrumou os livros e as roupas dentro de uma grande mochila, e levou uma bolsa com todas as economias que possuía. Desceu da janela do quarto com cuidado, apoiando-se no suporte para flores e madressilvas do lado de fora. Andou devagar com a lanterna no bolso da calça, porque já era quase hora do crepúsculo. Mas a satisfação era ainda maior: sua fuga tinha sido esplêndida. Ninguém a percebera sair. Agora faltava o mais importante: um local para dormir.
De jeito nenhum Helena dormiria na rua. E não podia gastar todo o dinheiro em um hotel. Não havia opção. Ela teria que ajudar. Helena tirou o celular da bolsa, e discou o numero da amiga. Isabele atendeu imediatamente, e Helena preferiu encontrá-la na cidade e explicar a situação com calma. Desligou o celular e continuou andando, agora com ajuda da lanterna. Mas na cabeça, já cheia de coisas, um pensamento mais forte lhe ocorria: e se eu não chegar lá?
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