quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

O intruso do sótão (cap. 2 parte 3)

Um garoto, com cabelos pretos bagunçados e sardas no rosto estava parado bem encima de Helena, fitando-a com indignação.

— Quem é você? — perguntou Helena, levantando-se de súbito.

— Eu é que pergunto! — disse o menino, indignado. — Você está na minha casa, se não percebeu. — Sua casa? — disse Helena, sacudindo de leve na cabeça — Helena. — ela respondeu, lembrando-se da pergunta

— Max. — disse o menino. Helena estreitou os olhos, lembrando-se de algo.

— Max? Eu acho... Que conheço você.

— É, conhece. Estudei duas vezes com você, na quarta e na terceira série.

Max corou um pouco com essa declaração. Ele se lembrava bem de Helena, porque era uma das meninas mais feias, que era sempre alvo de maldades. Ele odiava admitir, mas ele a achava muito bonita agora.

— Mas... Você mora aqui? — disse Helena, mudando de assunto. Ela se incomodava um pouco com os olhares furtivos de Max, e tentava negar como isso era satisfatório. Mesmo quando estava com Thiago, não se lembrava de ele a olhar assim. E mesmo com o ar um pouco infantil, causado pelas pequenas sardas no rosto, ela o achava até bonito.

— Moro, sim. Todo mundo acha que a casa é abandonada, né?

— Mas por quê? Você não tem com quem ficar? — Helena sabia que Max era órfão, mas não achou que este fosse o motivo para ele estar aqui.

— Não. É só uma longa história.

— Uma longa história que fez você vir para cá? — pressionou Helena.

— Meu tio — desabafou ele — O velho bêbado me odeia. Por isso eu vim parar aqui. Mas e você? Porque está aqui?

— Meu pai — disse ela, lembrando-se de que, a esta hora, ele deveria estar louco — Ele quer que eu vá para a droga do intercambio na Europa. Na verdade não é ele, é a Marta. O que me dá mais raiva ainda!

— E por isso você fugiu? Só por isso? — disse Max, achando tudo aquilo uma imaturidade de Helena.

— Não é a primeira vez que a Marta faz isso. Quero dizer, tomar conta da situação — ela disse, tentando se justificar — Já me dei mal por causa disso, varias vezes. E eles queriam me colocar em um avião amanhã cedo! Não podia abandonar a escola assim!

Ele não falou nada por algum tempo. Achava ingratidão ela ter recusado, mais depois entendeu que aquilo era dispensável para ela. Podia ter tudo o que quisesse, por que iria para a Europa agora? Helena se irritou quando Max disse isso em voz alta, e logo tratou de lhe dar como premio uma resposta dura e revoltada.

— Não foi meu pai que me deu essa droga! E eu não tenho tudo o que quero! Você quer este intercambio? Pode ir, porque eu não vou lagar minhas amigas e os meus estudos só por um capricho do meu pai!

Naquele momento, por mais impossível que parecesse, ele a compreendeu. Entendeu que aquilo era um motivo de orgulho para o senhor Valdéz. Ele conhecia o homem, que adorava se gabar de qualquer coisa: da filha, da casa, dos carros. Como ele não gostaria de se exibir pelas ruas da cidade, dizendo que havia mandado a única filha estudar na Europa.

— Tudo bem — disse ele — Entendo você.

— Entende? — disse Helena, pasma.

Mas não precisava de resposta. Porque, mesmo sem saberem, a intuição de Max e a observação de Helena falavam por si só. Eles não suspeitavam, mas se conheciam melhor do que qualquer um. Só precisavam relembrar.




Copyright 2011. Autoria de Bianca L. Spinola - Todos os direitos reservados. Proibida cópia parcial ou total deste conteúdo sem autorização expressa do autor

2 comentários: